Graziela Andrade
No último domingo chegou ao fim a exposição Outra
Presença que teve como atração final um Sarau de Performances, realizado no
sábado. Tendo em vista esses acontecimentos propomos aqui uma breve reflexão
sobre a performance em si e aquilo
que, supomos, possa movê-la enquanto ato criativo.
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Presenças no jardim do MAP.(Foto: Luiza Palhares) |
A latência de uma criação exige
um preenchimento significativo que só pode ser concretizado na ação. O sujeito
cria, em sua intenção significativa, e o faz, traçando o caminho de
preenchimento de seu próprio vazio, levando, com isso, algo muito preciso e
pessoal à expressão. Sob esse ponto de vista, podemos refletir sobre a performance como uma experiência
criativa incorporada, que revela modos relacionais próprios do artista com o
mundo.
A partir do que se encontra
disponível na cultura, a ação performática suscita ações significadoras – no
artista e nos observadores – não necessariamente coincidentes, mas que, de alguma
forma, podem ser potencializadoras da abertura de outros acessos aos fenômenos
que, ininterruptamente, atravessam nossos corpos-sujeitos.
Temos assim um acontecimento que
conjuga o vazio, a cultura e a significação de um corpo na experimentação de
uma especificidade, que nem sempre oferecerá um sentido claro ao espectador. No
entanto, a outra presença que é essa
do corpo que observa é também um ser de especificidades, “preenchido por
vazios”, pertencente a uma cultura e a uma linguagem e, portanto, produtor de
significações. Aparentemente, é nesta contiguidade entre seres, nessas linhas
de cruzamento que se assemelham e se diferenciam que podemos, sensivelmente,
ser tomados por uma ação performática.
Esse exercício de imprimir no
espaço sua interioridade e individualidade, sem a necessária, mas, com a
possível captação do outro, parece estar na essência da performance e foi diante de uma série de treze experimentos que
se encerraram no último sábado as apresentações de Outra Presença, no MAP.
A Mostra Muda e a Mostra
Perplexa - integradas respectivamente por alunos do curso de pós-graduação
em performance e de graduação em
artes plásticas da Guignard – promoveram no museu uma verdadeira maratona
performática, em que as apresentações aconteceram, seguidamente, durante toda a
tarde.
Assim, Outra Presença encerrou suas atividades cumprindo a expectativa de,
ao menos durante 30 dias, ocupar o espaço do museu, atualizando e fazendo o
lugar acontecer diante de alteridades. E para além, a exposição termina
possibilitando, sensivelmente, também o contato, o encontro, o transtorno e o
momentâneo preenchimento do vazio humano em seu viés criativo.
Confiram a lista das apresentações
que foram realizadas e o álbum de fotografias feitas por Luiza Palhares.
Mostra Muda:
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Kiwo(man) – Sandra Bonomini
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Ninguém sabe o que sofro – Cristina Borges
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Namorico – Flávia Brettas
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Teletragédias – Patrícia Vieira
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O peso da cauda – Rocha & Polse
Mostra Perplexa:
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Afeto – Nísia Fernandes
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Espaço e fora, tempo e dentro – Mendes Jacinto
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Natureza morta e preenchimento de formas -
Letícia Grandinetti
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Sustentação – Raquel Nácar
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Vestida de nu e batom – Isabela Cesário
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Perdão – Marlla Antonine
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Mulher com mulher vira jacaré – Olívia Viana com
colaboração de Janaina Tabula
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I.A.C – Renata Villanova
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