28 de nov. de 2013
27 de nov. de 2013
Palestra: ruas e pertencimento
Graziela Andrade
Luiz Carlos Garrocho, Thereza
Portes e Wilson de Avellar compuseram a mesa que encerrou o ciclo de palestras
de Outra Presença, tratando do tema Acontecimento
e performatividade na rua. Os três artistas e educadores falaram de suas
experiências, respectivamente, no CEFAR (Palácio da Artes), na Galeria Undió e
no Arena da Cultura.
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Wilson Avellar, Thereza Portes e Luiz Carlos Garrocho. (Foto: Luiza Palhares) |
Garrocho questionou a relação das
pessoas com a cidade, tida como um lugar disperso, de passagem, onde se há cada
vez menos possibilidades de encontro. Segundo ele, existe uma espécie de cidade
“subterrânea” que não é vista pelos seus cidadãos, que muitas vezes
comportam-se como turistas em sua própria cidade. Neste cenário a presença do
artista e da performance nas ruas da
cidade é uma espécie de microrresistência que pode apontar para a necessidade
de uso dos espaços de pertencimento das pessoas.
No entanto, para Garrocho, o
artista deve sempre se perguntar sobre suas necessidades e motivos de atuar na
rua, uma vez que o narcisismo pode falar mais alto em algumas circunstâncias.
Em relação a isso, ele citou algumas sugestões que dá aos seus alunos no
exercício de “acontecer” na rua: que realizem pequenas escutas de seu próprio
corpo, que se lembrem de que o outro é coautor da paisagem e tem capacidades
performativas desconhecidas e que jamais imponham a esse outro sua liberdade.
Avellar, por sua vez, falou sobre
seus trabalhos mais recentes que têm tido como desafio a busca pelo silêncio na
extensão do tempo. Comentou sobre a reação das pessoas diante da simples
presença de um corpo estático, vestindo branco, em meio a encruzilhadas em que
estão centenas de transeuntes. Quanto ao trabalho no Arena, ele mencionou a
potência do espaço em reunir artistas com trabalhos em diversas linguagens, a
fim de trocar experiências entre eles e com os alunos – lembrando ainda que o
projeto passa por transformações positivas que poderão lhe garantir maior
consistência e perpetuidade no que tange a formação artística. Por fim, o
artista sugeriu a necessária busca por uma estética da alegria nas artes, ainda
que não se saiba bem como alcançá-la.
Retomando a história da família,
Thereza demonstrou como surgiu o Instituto Undió que, atualmente, tem sua sede
e grande parte das atividades exercidas na Rua Padre Belchior no centro de Belo
Horizonte – nas mesmas casas onde nasceram a artista e sua mãe, também artista
plástica. Memória e construção parecem ser os fundamentos principais dessa ONG,
um espaço acolhedor que recebe jovens interessados em formação artística e
promove também um grande intercâmbio entre os artistas da cidade. Apresentando
alguns trabalhos realizados em conjunto com vários desses artistas que por lá
circulam, Thereza demonstrou com a presença do Undió naquela rua é
transformadora do próprio ambiente que foi constituído. E, ainda, a maneira como
isso interfere, não só na vida dos adolescentes frequentadores como também, em
alguma medida, na dos que habitam ou frequentam os arredores.
As apresentações de ontem deram
origem a um rico debate a respeito desta outra
presença artística pelas ruas da cidade, em que os corpos, de um modo
geral, experimentam a sensação de pertencerem ao que, em verdade, os pertence:
Belo Horizonte.
Aconteceu no museu: Domingo em cores
Graziela Andrade
A chuva fina que caiu domingo
passado fez destacar ao longe, no início do jardim do MAP, guarda-chuvas
coloridos que se plantaram, provisoriamente, na paisagem. O cenário multicores
carregou-se de poesia, seja pela simples presença ambulante dos integrantes da Obscena, seja pelo compartilhamento dos
textos lidos em voz alta para o público.
Pela singela ação de deslocamento dos artistas a performance “Pequenas estações” foi capaz de criar convidativas e desaceleradas
composições espaciais, que preencheram todo o salão nobre do MAP, puramente
pela presença desses corpos de baixa cadência e fortes tons.
Logo depois, no espaço multiuso, uma máquina de algodão doce fazia par com Noemi Assumpção, na segunda performance do dia: Encasulamento. O objeto, que a princípio poderia se referir ao universo lúdico e fantasioso das memórias da infância, fez as vezes de um "monstro engolidor" na medida em que a artista, compulsivamente, foi cobrindo seu corpo com as tramas de açúcar cuspidas pela máquina. O corpo e o doce foram se fundindo até que se tornaram uma só coisa: grudados, avolumados e abstrusos.
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Noemi Assumpção envolta em algodão doce. (Foto: Luiza Palhares) |
A beleza branca inicial amarelava-se, derretia-se,
impregnava o corpo e apontava para o fato e para as consequências da ingestão
do “veneno branco” de cada dia. É assim que a artista se refere ao açúcar para
dizer da excessiva presença de alimentos industrializados na dieta da sociedade
atual. Em Encasulamento, o corpo engolido pelo açúcar evidencia o desequilíbrio
nesta balança de consumo.
Voltando ao Salão Nobre podíamos ver uma nova ocupação do
espaço. Dudude Hermann armara um cenário de limpeza e deu início a uma espécie
de dança da faxina em Des Dobra. Com bom humor e a trilha sonora de um radinho
de pilha, a artista distribuiu seus apetrechos entre os espectadores que
auxiliaram na limpeza: varrendo, passando pano ou esfregando o próprio corpo no
chão.
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A faxina de Dudude. (Foto: Luiza Palhares) |
Finalizada a faxina coletiva, recolhido e organizado o
material usado, foram espalhados pelo salão livros de arte embalados por folhas
coloridas. Em seguida Dudude também pediu para ter o corpo revestido por essas
cores. E assim, terminaram arte e artista, embrulhados para presente.
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O embrulho da arte. (Foto: Luiza Palhares) |
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