18 de nov. de 2013

Aconteceu no museu: Do tempo, do espaço e dos deslocamentos



Graziela Andrade

Diálogo (2010), de Shima* e Jakub Falkowski, abriu o dia de performances no MAP em torno de uma mesa na qual se podia comer e beber à vontade. Sentadas umas diante das outras, as pessoas, naturalmente, iniciaram conversas cotidianas, até o momento em que foram convidadas a se encaminharem ao auditório. O que se seguiu foi um vídeo, inicialmente sem imagens, apresentando apenas a voz dos dois performers em uma discussão que, a princípio, tangia o próprio fazer da obra. 

Na mesa em diálogos. (Foto: luiza Palhares)

Acontecendo na própria ação de ser pensada, a performance fez coincidir ou confundir a noção de temporalidade e até mesmo os nossos modos de permanência no mundo. Discutindo o que fariam durante o próprio fazer, os artistas colocavam em questão a realidade, quer seja de suas presenças ou dos registros de suas experiências. Ziguezagueando pela linha do tempo, eles romperam também o espaço da tela, ao se dirigirem ao público e questionarem, no passado em que o vídeo foi registrado, se, no futuro em que ele seria exibido – logo, o tempo presente – nós, que lá estávamos, lá permaneceríamos até aquele momento. Aliás, o momento, produção efêmera e irrepetível feita da combinação entre o tempo e o espaço, parece ser o aspecto mais sensível a ser percebido nesta obra.

Shima e Jakub, em Diálogo. (Foto: Luiza Palhares)

Depois foi a vez de Inácio Mariani ocupar o segundo andar do grande salão do MAP, com a obra Exercício de Localização. Também questionando a temporalidade da ação, o artista trabalhou com a expansão do presente e, de certa forma, docilizou – como quereria Foucault - os espectadores, ao fazer com que eles participassem da cena, por vias de imagens, instantaneamente produzidas pela mira de uma máquina fotográfica. Manejando essa produção que era exibida em grande escala em uma parede, o performer foi constituindo sua cena a partir das presenças, seja de pessoas ou objetos, que então ocupavam o espaço.


Inácio Mariani, invertendo perspectivas. (Foto: Luiza Palhares)

Girando sua máquina, Inácio ampliou o espaço de observação entre ele e o espectador. Dilatando o presente, ele ia captando uma multiplicidade de acontecimentos do instante, aos quais íamos tendo consciência sem nos mobilizarmos para tanto. Ou seja, era o movimento da câmera que provocava no espectador o deslocamento no espaço em que estava localizado, promovendo uma ampliação do olhar e um entendimento expandido do próprio corpo.

Por fim, deu-se a vez e a voz ao Duelo de MC´s. Do púlpito, oito jovens, ao comando de MC Monge, dispararam rimas improvisadas a partir de um tema sorteado na hora, em uma roda de bicicleta. Dois a dois eles iam disputando o voto do público e do juiz, usando os gestos e as palavras como forma de ataque, em um raciocínio rápido e feroz, a partir do qual só um sairia vitorioso.

MC Monge apresenta os duelistas. (Foto: Luiza Palhares)

Uma vez mais, o MAP acolheu uma manifestação cultural popular, que cumpriu o trajeto das ruas para o museu, fazendo jus à proposta de Outra Presença.

* O artista paulista chegou a Belo Horizonte em função da residência artística do Museu de Arte da Pampulha, da qual fez parte em 2010.

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