Graziela Andrade
Diálogo (2010), de Shima* e Jakub Falkowski, abriu o dia de performances no MAP em torno de uma mesa
na qual se podia comer e beber à vontade. Sentadas umas diante das outras, as
pessoas, naturalmente, iniciaram conversas cotidianas,
até o momento em que foram convidadas a se encaminharem ao auditório. O que se
seguiu foi um vídeo, inicialmente sem imagens, apresentando apenas a voz dos dois
performers em uma discussão que, a princípio,
tangia o próprio fazer da obra.
Na mesa em diálogos. (Foto: luiza Palhares) |
Acontecendo
na própria ação de ser pensada, a performance
fez coincidir ou confundir a noção de temporalidade e até mesmo os nossos modos de
permanência no mundo. Discutindo o que fariam durante o próprio fazer, os
artistas colocavam em questão a realidade, quer seja de suas presenças ou dos registros de suas experiências. Ziguezagueando pela linha do tempo, eles
romperam também o espaço da tela, ao se dirigirem ao público e questionarem, no
passado em que o vídeo foi registrado, se, no futuro em que ele seria exibido –
logo, o tempo presente – nós, que lá estávamos, lá permaneceríamos até aquele
momento. Aliás, o momento, produção efêmera e irrepetível feita da combinação entre
o tempo e o espaço, parece ser o aspecto mais sensível a ser percebido nesta
obra.
Shima e Jakub, em Diálogo. (Foto: Luiza Palhares) |
Depois
foi a vez de Inácio Mariani ocupar o segundo andar do grande salão do MAP, com a obra Exercício
de Localização. Também questionando a temporalidade da ação, o artista
trabalhou com a expansão do presente e, de certa forma, docilizou – como
quereria Foucault - os espectadores, ao fazer com que eles participassem da
cena, por vias de imagens, instantaneamente produzidas pela mira de uma máquina
fotográfica. Manejando essa produção que era exibida em grande escala em uma
parede, o performer foi constituindo
sua cena a partir das presenças, seja de pessoas ou objetos, que então ocupavam
o espaço.
Inácio Mariani, invertendo perspectivas. (Foto: Luiza Palhares) |
Girando
sua máquina, Inácio ampliou o espaço de observação entre ele e o espectador.
Dilatando o presente, ele ia captando uma multiplicidade de acontecimentos do
instante, aos quais íamos tendo consciência sem nos mobilizarmos para tanto. Ou
seja, era o movimento da câmera que provocava no espectador o deslocamento no
espaço em que estava localizado, promovendo uma ampliação do olhar e um
entendimento expandido do próprio corpo.
Por fim,
deu-se a vez e a voz ao Duelo de MC´s. Do
púlpito, oito jovens, ao comando de MC Monge, dispararam rimas improvisadas a
partir de um tema sorteado na hora, em uma roda de bicicleta. Dois a dois eles
iam disputando o voto do público e do juiz, usando os gestos e as palavras como
forma de ataque, em um raciocínio rápido e feroz, a partir do qual só um sairia
vitorioso.
MC Monge apresenta os duelistas. (Foto: Luiza Palhares) |
Uma vez
mais, o MAP acolheu uma manifestação cultural popular, que cumpriu o trajeto
das ruas para o museu, fazendo jus à proposta de Outra Presença.
* O artista paulista chegou a Belo
Horizonte em função da residência artística do Museu de Arte da Pampulha, da
qual fez parte em 2010.
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