Graziela Andrade
Entre o que se
pretende com um projeto arquitetônico e aquilo em que ele vai, historicamente,
se tornando está o corpo - operador de todo sentido. Outra Presença, a série de performances
apresentada a partir de hoje, no Museu de Arte da Pampulha, é uma proposta atenta
à questão que envolve a ininterrupta imbricação e reflexiva constituição que há
entre o lugar, o espaço e o corpo.
O espaço, como
nos ensina Certeau, é uma efetuação do lugar, assim como uma palavra quando é falada.
Por sua vez, o corpo, como quer Foucault é o “ponto zero do mundo” do qual surgem
todos os lugares possíveis, na perspectiva do imaginário. Assim, na esteira desses
pensadores, é a presença e a ação do corpo que realizam o espaço, que dão a ele
sentido e espírito. Sua ausência, ao contrário, lhe retira o ânimo, a força que
faz vivo o lugar.
Em se tratando
de arquitetura, Oscar Niemeyer deixa saber que o corpo é uma grande inspiração
para as curvas de suas obras e, no caso do MAP, inicialmente construído e
“espacializado” como um cassino da década de quarenta, essa lógica se manteve:
fervilharam, entre os mármores, rampas e colunas de aço inoxidável, os corpos
de uma burguesia elegante e ávida por diversão e prazeres – pouco antes da
ditadura, que tomaria o país e cerraria as portas do prédio.
Na configuração atual,
o MAP - por meio da curadoria de Ana Luisa Santos, Marco Paulo Rolla e Nathalia
Larsen - procura, literalmente, evocar outras
presenças. Primeiro para se reafirmar enquanto um espaço público de
pertencimento que, para além de ser uma atração turística do complexo da
Pampulha, deseja se oferecer aos moradores da cidade que não são seus maiores
frequentadores. Segundo para deslocar, provocar e dar originalidade ao modo dos
corpos estarem presentes no museu, por vezes docilizados por regras de
comportamento e aprisionados na própria grandiosidade da estrutura
arquitetônica. A subversão está, ironicamente, na permissão. Permissão para o
preenchimento do vazio. Permissão para que os corpos se apresentem e, com isso,
exercitem e modifiquem as instâncias do espaço.
Diante desta
intenção, a performance se apresenta
como a linguagem artística apropriada, uma
vez que pressupõe a ação e a interação, a presença e os (des)encontros de corpos em uma efêmera construção de sentido. Entre
jovens e reconhecidos, mais de trinta artistas da cidade estarão presentes no MAP
ao longo deste mês - o homem nu que deseja arrastar as colunas de Niemeyer, a
mulher que faz no museu um churrasco aos moldes “da laje”, o encontro em curvas
do Quarteirão do Soul, a dança feita dos ordinários movimentos da limpeza
diária de uma casa.
Orbitar o corpo
e experimentar o espaço talvez seja o único denominador comum entre as tantas e
distintas performances que serão
apresentadas. Outra Presença, por
fim, integra o Museu de Arte da Pampulha à cena artística de Belo Horizonte e estende
a todos os corpos espectadores o convite a uma nova experimentação no espaço –
público, vale dizer – do museu, que está aberto ao jogo dos corpos.
Informações: As performances acontecem de sexta a domingo, havendo também palestras
na terça feira. Confiram toda a programação e acompanhem notícias e reflexões
nos posts deste blog, que será atualizado de acordo com a programação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário