1 de nov. de 2013

MAP: está aberto o jogo entre corpos e espaço



Graziela Andrade

Entre o que se pretende com um projeto arquitetônico e aquilo em que ele vai, historicamente, se tornando está o corpo - operador de todo sentido. Outra Presença, a série de performances apresentada a partir de hoje, no Museu de Arte da Pampulha, é uma proposta atenta à questão que envolve a ininterrupta imbricação e reflexiva constituição que há entre o lugar, o espaço e o corpo. 

O espaço, como nos ensina Certeau, é uma efetuação do lugar, assim como uma palavra quando é falada. Por sua vez, o corpo, como quer Foucault é o “ponto zero do mundo” do qual surgem todos os lugares possíveis, na perspectiva do imaginário. Assim, na esteira desses pensadores, é a presença e a ação do corpo que realizam o espaço, que dão a ele sentido e espírito. Sua ausência, ao contrário, lhe retira o ânimo, a força que faz vivo o lugar. 

Em se tratando de arquitetura, Oscar Niemeyer deixa saber que o corpo é uma grande inspiração para as curvas de suas obras e, no caso do MAP, inicialmente construído e “espacializado” como um cassino da década de quarenta, essa lógica se manteve: fervilharam, entre os mármores, rampas e colunas de aço inoxidável, os corpos de uma burguesia elegante e ávida por diversão e prazeres – pouco antes da ditadura, que tomaria o país e cerraria as portas do prédio.

Na configuração atual, o MAP - por meio da curadoria de Ana Luisa Santos, Marco Paulo Rolla e Nathalia Larsen - procura, literalmente, evocar outras presenças. Primeiro para se reafirmar enquanto um espaço público de pertencimento que, para além de ser uma atração turística do complexo da Pampulha, deseja se oferecer aos moradores da cidade que não são seus maiores frequentadores. Segundo para deslocar, provocar e dar originalidade ao modo dos corpos estarem presentes no museu, por vezes docilizados por regras de comportamento e aprisionados na própria grandiosidade da estrutura arquitetônica. A subversão está, ironicamente, na permissão. Permissão para o preenchimento do vazio. Permissão para que os corpos se apresentem e, com isso, exercitem e modifiquem as instâncias do espaço.

Diante desta intenção, a performance se apresenta como a linguagem artística apropriada,  uma vez que pressupõe a ação e a interação, a presença e os (des)encontros de corpos em uma efêmera construção de sentido. Entre jovens e reconhecidos, mais de trinta artistas da cidade estarão presentes no MAP ao longo deste mês - o homem nu que deseja arrastar as colunas de Niemeyer, a mulher que faz no museu um churrasco aos moldes “da laje”, o encontro em curvas do Quarteirão do Soul, a dança feita dos ordinários movimentos da limpeza diária de uma casa. 

Orbitar o corpo e experimentar o espaço talvez seja o único denominador comum entre as tantas e distintas performances que serão apresentadas. Outra Presença, por fim, integra o Museu de Arte da Pampulha à cena artística de Belo Horizonte e estende a todos os corpos espectadores o convite a uma nova experimentação no espaço – público, vale dizer – do museu, que está aberto ao jogo dos corpos.

Informações: As performances acontecem de sexta a domingo, havendo também palestras na terça feira. Confiram toda a programação e acompanhem notícias e reflexões nos posts deste blog, que será atualizado de acordo com a programação.

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