Graziela Andrade
Luiz Carlos Garrocho, Thereza
Portes e Wilson de Avellar compuseram a mesa que encerrou o ciclo de palestras
de Outra Presença, tratando do tema Acontecimento
e performatividade na rua. Os três artistas e educadores falaram de suas
experiências, respectivamente, no CEFAR (Palácio da Artes), na Galeria Undió e
no Arena da Cultura.
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Wilson Avellar, Thereza Portes e Luiz Carlos Garrocho. (Foto: Luiza Palhares) |
Garrocho questionou a relação das
pessoas com a cidade, tida como um lugar disperso, de passagem, onde se há cada
vez menos possibilidades de encontro. Segundo ele, existe uma espécie de cidade
“subterrânea” que não é vista pelos seus cidadãos, que muitas vezes
comportam-se como turistas em sua própria cidade. Neste cenário a presença do
artista e da performance nas ruas da
cidade é uma espécie de microrresistência que pode apontar para a necessidade
de uso dos espaços de pertencimento das pessoas.
No entanto, para Garrocho, o
artista deve sempre se perguntar sobre suas necessidades e motivos de atuar na
rua, uma vez que o narcisismo pode falar mais alto em algumas circunstâncias.
Em relação a isso, ele citou algumas sugestões que dá aos seus alunos no
exercício de “acontecer” na rua: que realizem pequenas escutas de seu próprio
corpo, que se lembrem de que o outro é coautor da paisagem e tem capacidades
performativas desconhecidas e que jamais imponham a esse outro sua liberdade.
Avellar, por sua vez, falou sobre
seus trabalhos mais recentes que têm tido como desafio a busca pelo silêncio na
extensão do tempo. Comentou sobre a reação das pessoas diante da simples
presença de um corpo estático, vestindo branco, em meio a encruzilhadas em que
estão centenas de transeuntes. Quanto ao trabalho no Arena, ele mencionou a
potência do espaço em reunir artistas com trabalhos em diversas linguagens, a
fim de trocar experiências entre eles e com os alunos – lembrando ainda que o
projeto passa por transformações positivas que poderão lhe garantir maior
consistência e perpetuidade no que tange a formação artística. Por fim, o
artista sugeriu a necessária busca por uma estética da alegria nas artes, ainda
que não se saiba bem como alcançá-la.
Retomando a história da família,
Thereza demonstrou como surgiu o Instituto Undió que, atualmente, tem sua sede
e grande parte das atividades exercidas na Rua Padre Belchior no centro de Belo
Horizonte – nas mesmas casas onde nasceram a artista e sua mãe, também artista
plástica. Memória e construção parecem ser os fundamentos principais dessa ONG,
um espaço acolhedor que recebe jovens interessados em formação artística e
promove também um grande intercâmbio entre os artistas da cidade. Apresentando
alguns trabalhos realizados em conjunto com vários desses artistas que por lá
circulam, Thereza demonstrou com a presença do Undió naquela rua é
transformadora do próprio ambiente que foi constituído. E, ainda, a maneira como
isso interfere, não só na vida dos adolescentes frequentadores como também, em
alguma medida, na dos que habitam ou frequentam os arredores.
As apresentações de ontem deram
origem a um rico debate a respeito desta outra
presença artística pelas ruas da cidade, em que os corpos, de um modo
geral, experimentam a sensação de pertencerem ao que, em verdade, os pertence:
Belo Horizonte.
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