Ana Luisa Santos
Estamos com 14 dias de exposição no museu de arte da Pampulha
– MAP. Ressoam no espaço 14 performances, duas palestra e incontáveis imagens e
encontros. A sensação é de puro atravessamento: no museu, um deslocamento de
tempo impossibilita mensurar em semanas o tipo de experiência compartilhada
diante das obras que aconteceram/acontecem durante a outra presença; no MAP, um
deslocamento de espaço permite a percepção de diferentes situações: cada dia é
um lugar.
Hasteada a bandeira de Outra Presença no MAP. (Foto: Luiza Palhares) |
Como artista e pesquisadora, sinto essa experiência de forma
contundente, através de uma percepção da beleza diante da ativação do espaço do
museu pela presença plena e generosa dos artistas que realizam suas obras com
entrega e força. Eles, os performers, parecem compartilhar com o público a
conquista daquele espaço, até então ou ainda, distante para muitos: longe do
centro ou de um campo de atuação possível na dinâmica política da arte em Belo
Horizonte.
Durante sua palestra na exposição, Teresinha Soares afirmou
que sente o MAP como sua casa. Curiosa a revelação de uma das primeiras
artistas a realizar performances no museu. Diferentemente da percepção de
Teresinha, entendo o museu, através da outra presença, como um espaço político.
Isso não quer dizer que uma casa não possa configurar um espaço de debate, mas,
no lugar de equipamento público que o museu ocupa, as elaborações e confrontos
se potencializam a partir do encontro com a diferença.
Museu de Arte da Pampulha. (Foto: Luiza Palhares) |
Ainda neste breve período em processo da exposição, destaque
para a outra presença provocada pelas crianças e pelos turistas, que chegam
para visitar o museu em seu caráter de edifício e tem a oportunidade de
encontrar outros usos, frutos da ocupação artística dos corpos em ação. De
qualquer forma, é estabelecido um jogo de dentro e fora em que os limites são
colocados a prova. Esse jogo é decorrente da proposta arquitetônica, mas está
em exercício pelos artistas através de várias obras que provocam um múltiplo
deslocamento do corpo, do público, de todos nós.
A diversidade de propostas artísticas, povoadas de variadas
intensidades, provoca também uma mistura de sensações no corpo. Borram-se as
fronteiras entre o interno e o externo de cada um diante do dilaceramento do
espaço e do tempo na paisagem de outra presença. O movimento do vento, a dança
da bandeira da exposição, as pequenas ondas da água da lagoa, os corpos em ação
performática: tudo compõe um ritmo dilatado de sensibilização. Aliás, tudo compõe
com as obras naquele lugar: são planos, molduras, sons e luz que implodem a
idéia de um museu, de um edifício ou de um corpo circunscrito sob definidos
limites. Leituras diferentes, presenças extraordinárias compõem com o lugar de
maneira a criar formas e sentidos condensados de vida ou do desafio de viver.
Ana Luisa Santos e Guilherme Morais em Trans. (Foto: Luiza Palhares) |
Sinto que o desafio artístico é cada vez maior e que a outra
presença diz de um testemunho do que podemos escavar da memória – universal ou
particular – fortalecendo e apresentando, sempre, a possibilidade de criar,
pensar e mover diante do que percebemos hoje. Estou atravessada e não sei
exatamente onde estão as fronteiras do que percebo ou do que vivo: outra
presença me dá isso.
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