15 de nov. de 2013

Da vontade: sobre a outra presença do atravessamento

Ana Luisa Santos



Estamos com 14 dias de exposição no museu de arte da Pampulha – MAP. Ressoam no espaço 14 performances, duas palestra e incontáveis imagens e encontros. A sensação é de puro atravessamento: no museu, um deslocamento de tempo impossibilita mensurar em semanas o tipo de experiência compartilhada diante das obras que aconteceram/acontecem durante a outra presença; no MAP, um deslocamento de espaço permite a percepção de diferentes situações: cada dia é um lugar.

Hasteada a bandeira de Outra Presença no MAP. (Foto: Luiza Palhares)

Como artista e pesquisadora, sinto essa experiência de forma contundente, através de uma percepção da beleza diante da ativação do espaço do museu pela presença plena e generosa dos artistas que realizam suas obras com entrega e força. Eles, os performers, parecem compartilhar com o público a conquista daquele espaço, até então ou ainda, distante para muitos: longe do centro ou de um campo de atuação possível na dinâmica política da arte em Belo Horizonte.

Durante sua palestra na exposição, Teresinha Soares afirmou que sente o MAP como sua casa. Curiosa a revelação de uma das primeiras artistas a realizar performances no museu. Diferentemente da percepção de Teresinha, entendo o museu, através da outra presença, como um espaço político. Isso não quer dizer que uma casa não possa configurar um espaço de debate, mas, no lugar de equipamento público que o museu ocupa, as elaborações e confrontos se potencializam a partir do encontro com a diferença.

Museu de Arte da Pampulha. (Foto: Luiza Palhares)
 
Ainda neste breve período em processo da exposição, destaque para a outra presença provocada pelas crianças e pelos turistas, que chegam para visitar o museu em seu caráter de edifício e tem a oportunidade de encontrar outros usos, frutos da ocupação artística dos corpos em ação. De qualquer forma, é estabelecido um jogo de dentro e fora em que os limites são colocados a prova. Esse jogo é decorrente da proposta arquitetônica, mas está em exercício pelos artistas através de várias obras que provocam um múltiplo deslocamento do corpo, do público, de todos nós.

A diversidade de propostas artísticas, povoadas de variadas intensidades, provoca também uma mistura de sensações no corpo. Borram-se as fronteiras entre o interno e o externo de cada um diante do dilaceramento do espaço e do tempo na paisagem de outra presença. O movimento do vento, a dança da bandeira da exposição, as pequenas ondas da água da lagoa, os corpos em ação performática: tudo compõe um ritmo dilatado de sensibilização. Aliás, tudo compõe com as obras naquele lugar: são planos, molduras, sons e luz que implodem a idéia de um museu, de um edifício ou de um corpo circunscrito sob definidos limites. Leituras diferentes, presenças extraordinárias compõem com o lugar de maneira a criar formas e sentidos condensados de vida ou do desafio de viver.

Ana Luisa Santos e Guilherme Morais em Trans. (Foto: Luiza Palhares)

Sinto que o desafio artístico é cada vez maior e que a outra presença diz de um testemunho do que podemos escavar da memória – universal ou particular – fortalecendo e apresentando, sempre, a possibilidade de criar, pensar e mover diante do que percebemos hoje. Estou atravessada e não sei exatamente onde estão as fronteiras do que percebo ou do que vivo: outra presença me dá isso.   

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