2 de nov. de 2013

Aconteceu no Museu



Graziela Andrade

A primeira noite de performances no MAP foi marcada pela força e poesia de O Puxador - obra de Laura Lima, interpretada por Tiago Macedo – e pelos sabores e gentilezas de Agnes Farkasvolgyi, em Presença Ambulante, Falante e Generosa

Tiago Macedo interpreta "O Puxador", de Laura Lima. Foto: Luiza Palhares.
Logo na entrada do salão principal do museu, os visitantes deparavam-se com um homem nu, envolto por cadarços de nylon amarrados às colunas de aço, que praticava um esforço fantasioso de arrastar consigo toda a estrutura que o prendia. Para o curador Marco Paulo Rolla, essa é uma cena impactante, mas ao mesmo tempo é uma poética figura de convite à exposição, na medida em que reflete o desejo da curadoria de integrar o espaço do MAP ao da cidade. 

O Puxador é uma obra que integra o acervo do museu e, assim, sua escolha para a abertura de Outra Presença vai ao encontro do anseio do trio de curadores - formado também por Ana Luisa Santos e Nathalia Larsen - de promover a ativação da coleção e, na mesma medida, de amadurecer e dar importância à política de aquisição de obras. Na portaria, Marcelo de Jesus, funcionário do museu, acompanhava as primeiras reações dos visitantes e afirmou que o comportamento desses vinha sendo elogioso e respeitoso. Já no mezanino, uma mulher aguardava o momento certo de passar pela porta, para assim evitar o contato com o homem nu. As tensões provocadas nessa performance refletiam-se ainda no próprio corpo do artista interpretante, que apresentava marcas de seu constante esforço, nas quase três horas em que sua pele era pressionada ao nylon, a fim de que a estrutura dos cadarços fosse mantida estirada. 

Do lado de fora do salão, entre os jardins de Burle Marx, ambulantes eram as mesas que dispunham os petiscos da Vernissage. Trata-se da obra da artista e chef de cozinha Agnes Farkasvolgyi, na qual o corpo é o suporte para um arranjo circular com função de bandeja, que por sua vez é um pretexto para fazer o outro se aproximar e dar início a uma conversa. Para a artista, a comida opera uma tradução entre linguagens, em que dialogam sabores e sentimentos. 

Agnes Farkasvolgyi, em performance. Foto: Luiza Palhares
A culinária guarda, assim, uma carga afetiva a partir da qual o próprio fato de escolher e preparar um prato para alguém pode querer dizer: “eu gosto de você”. Dessa maneira, Presença Ambulante, Falante e Generosa atraiu as pessoas pelo estômago e pela curiosidade - mesmo aquelas a princípio intimidadas pela apresentação multicores e inusitada das mulheres de corpos “embandejados”- e deu início a uma troca de histórias, afetos e, claro, muitos sabores.

Outra Presença apresenta ainda mostras de Vídeo Performance e Foto Performance, em exposição no segundo andar do salão principal, que reúnem trabalhos anteriores de vários dos artistas que participam da programação. Para além, haverá palestras nas terças-feiras e várias performances para acontecer ao longo do mês. Escolham as atrações e façam-se presentes no MAP. 

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