Graziela Andrade
Tempo delongado e espaço
transbordado, ontem, no MAP. Borda d´água,
uma ação de superfície, de Julia Panadés, trouxe para o salão do museu um
plano da lagoa da Pampulha, que dali se derramou pelos jardins do prédio, indo
ao encontro do próprio objeto homenageado.
Borda D'água. (Foto: Luiza Palhares) |
Ocupado pela forma sinuosa da
lagoa em feltro e com seus braços estendidos por toda parte, o mármore poroso
que reveste o chão do 1º andar passou a ser pisado entre as brechas do tecido. Provocados,
os visitantes precisaram criar uma nova articulação com o espaço. Foi
interessante perceber a recusa dos pés em pisarem a obra, quase como se essa
ação pudesse molhá-los.
O desenho espalhado direcionou o
corpo de quem o atravessava e, ao mesmo tempo em que provocava desvios de
passagem, apontava para um caminho vermelho de prosseguimento infindável, pois,
sendo concluído na lagoa, o trabalho propôs seu próprio recomeço, navegando
entre o simbólico e o real. Como parte da obra e promovendo uma rede entre
linguagens artísticas, foi concebido e distribuído um livreto que apresenta
poesias e desenhos de superfície profunda.
Lagoa no piso do museu. (Foto: Luiza Palhares) |
Do lado de fora do prédio, o
coletivo Xepa, em Ação de abraçar o que
resta, fundia-se à paisagem,
fazendo pertencer a ela os corpos de Marcelino Peixoto e Viviane Gandra. Marcando
uma existência passada, da qual há ainda alguma permanência, os artistas
estacionavam sua matéria em restos de árvores, e no abarcamento prolongado pareciam
se enraizar ao lugar. Aderindo ao sol, aos insetos, ao contato com a grama, o
que os corpos misturados ao histórico jardim de Burle Marx evidenciavam era a
ausência mesma, ou seja, a falta que também resiste ao tempo - pela parte do
tronco das árvores que ainda resta.
Ação de abraçar o que resta. (Foto: Luiza Palhares) |
Do segundo andar, alguns
visitantes vigiavam, pelos vidros, o deslocamento dos abraços no cenário de
fora, buscando pelos personagens camuflados, como quando tentamos detectar a
presença de animais soltos em algum lugar: olha
lá, ele mudou de lugar! Ali ele, tá vendo? Do lado da árvore. Estendendo-se
no tempo e mantendo-se no espaço, aqueles corpos, pela simples exibição da
permanência, também parecem ter transbordado os limites da paisagem que
passaram a compor.
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