Graziela Andrade
A chuva fina que caiu domingo
passado fez destacar ao longe, no início do jardim do MAP, guarda-chuvas
coloridos que se plantaram, provisoriamente, na paisagem. O cenário multicores
carregou-se de poesia, seja pela simples presença ambulante dos integrantes da Obscena, seja pelo compartilhamento dos
textos lidos em voz alta para o público.
Pela singela ação de deslocamento dos artistas a performance “Pequenas estações” foi capaz de criar convidativas e desaceleradas
composições espaciais, que preencheram todo o salão nobre do MAP, puramente
pela presença desses corpos de baixa cadência e fortes tons.
Logo depois, no espaço multiuso, uma máquina de algodão doce fazia par com Noemi Assumpção, na segunda performance do dia: Encasulamento. O objeto, que a princípio poderia se referir ao universo lúdico e fantasioso das memórias da infância, fez as vezes de um "monstro engolidor" na medida em que a artista, compulsivamente, foi cobrindo seu corpo com as tramas de açúcar cuspidas pela máquina. O corpo e o doce foram se fundindo até que se tornaram uma só coisa: grudados, avolumados e abstrusos.
Noemi Assumpção envolta em algodão doce. (Foto: Luiza Palhares) |
A beleza branca inicial amarelava-se, derretia-se,
impregnava o corpo e apontava para o fato e para as consequências da ingestão
do “veneno branco” de cada dia. É assim que a artista se refere ao açúcar para
dizer da excessiva presença de alimentos industrializados na dieta da sociedade
atual. Em Encasulamento, o corpo engolido pelo açúcar evidencia o desequilíbrio
nesta balança de consumo.
Voltando ao Salão Nobre podíamos ver uma nova ocupação do
espaço. Dudude Hermann armara um cenário de limpeza e deu início a uma espécie
de dança da faxina em Des Dobra. Com bom humor e a trilha sonora de um radinho
de pilha, a artista distribuiu seus apetrechos entre os espectadores que
auxiliaram na limpeza: varrendo, passando pano ou esfregando o próprio corpo no
chão.
A faxina de Dudude. (Foto: Luiza Palhares) |
Finalizada a faxina coletiva, recolhido e organizado o
material usado, foram espalhados pelo salão livros de arte embalados por folhas
coloridas. Em seguida Dudude também pediu para ter o corpo revestido por essas
cores. E assim, terminaram arte e artista, embrulhados para presente.
O embrulho da arte. (Foto: Luiza Palhares) |
Graziela, tenho acompanhado tua produção no blog! Teus registros me encantam e provocam. Obrigado! Publiquei no blog do Obscena (obscenica.blogspot.com) minhas sensações na ação do último domingo no MAP. Te convido a partilhar a minha escrita performática.
ResponderExcluirUm abraço, Clóvis.
Oi Clóvis! Que bom saber que você está acompanhando o blog, fico feliz por isso. Melhor ainda que esteja gostando ;)
ResponderExcluirVou passar pelo seu blog também, me interessa bastante esta partilha. Obrigada!
abs, Grazi