27 de nov. de 2013

Aconteceu no museu: Domingo em cores



Graziela Andrade

A chuva fina que caiu domingo passado fez destacar ao longe, no início do jardim do MAP, guarda-chuvas coloridos que se plantaram, provisoriamente, na paisagem. O cenário multicores carregou-se de poesia, seja pela simples presença ambulante dos integrantes da Obscena, seja pelo compartilhamento dos textos lidos em voz alta para o público.    
 
Cores da Obscena em Pequenas Estações. (Foto: Luiza Palhares)

Pela singela ação de deslocamento dos artistas a performance “Pequenas estações” foi capaz de criar convidativas e desaceleradas composições espaciais, que preencheram todo o salão nobre do MAP, puramente pela presença desses corpos de baixa cadência e fortes tons. 

Logo depois, no espaço multiuso, uma máquina de algodão doce fazia par com Noemi Assumpção, na segunda performance do dia: Encasulamento. O objeto, que a princípio poderia se referir ao universo lúdico e fantasioso das memórias da infância, fez as vezes de um "monstro engolidor" na medida em que a artista, compulsivamente, foi cobrindo seu corpo com as tramas de açúcar cuspidas pela máquina. O corpo e o doce foram se fundindo até que se tornaram uma só coisa: grudados, avolumados e abstrusos.

 
Noemi Assumpção envolta em algodão doce. (Foto: Luiza Palhares)



A beleza branca inicial amarelava-se, derretia-se, impregnava o corpo e apontava para o fato e para as consequências da ingestão do “veneno branco” de cada dia. É assim que a artista se refere ao açúcar para dizer da excessiva presença de alimentos industrializados na dieta da sociedade atual. Em Encasulamento, o corpo engolido pelo açúcar evidencia o desequilíbrio nesta balança de consumo. 
 
Voltando ao Salão Nobre podíamos ver uma nova ocupação do espaço. Dudude Hermann armara um cenário de limpeza e deu início a uma espécie de dança da faxina em Des Dobra. Com bom humor e a trilha sonora de um radinho de pilha, a artista distribuiu seus apetrechos entre os espectadores que auxiliaram na limpeza: varrendo, passando pano ou esfregando o próprio corpo no chão.



A faxina de Dudude. (Foto: Luiza Palhares)


Finalizada a faxina coletiva, recolhido e organizado o material usado, foram espalhados pelo salão livros de arte embalados por folhas coloridas. Em seguida Dudude também pediu para ter o corpo revestido por essas cores. E assim, terminaram arte e artista, embrulhados para presente.

O embrulho da arte. (Foto: Luiza Palhares)

2 comentários:

  1. Graziela, tenho acompanhado tua produção no blog! Teus registros me encantam e provocam. Obrigado! Publiquei no blog do Obscena (obscenica.blogspot.com) minhas sensações na ação do último domingo no MAP. Te convido a partilhar a minha escrita performática.
    Um abraço, Clóvis.

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  2. Oi Clóvis! Que bom saber que você está acompanhando o blog, fico feliz por isso. Melhor ainda que esteja gostando ;)
    Vou passar pelo seu blog também, me interessa bastante esta partilha. Obrigada!
    abs, Grazi

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