24 de nov. de 2013

Aconteceu no museu (sábado): Silêncio, efusão e poesia



Graziela Andrade

Vindo da Lagoa da Pampulha, Wilson Avellar surgiu e se integrou a paisagem externa do MAP. Vestido de branco ele permaneceu todo o tempo da ação Ensaio sobre a hora absurda, sentado em um banco no jardim. Ao seu redor o tempo. O tempo que se fazia percebido nas marolas que corriam nas águas da lagoa, no mergulho das capivaras que nela surgiram, no beija flor que atravessava os canteiros das iresinas de Burle Marx e nos pontos de sangue que manchavam a alvura do artista.  

Com os dedos furados por espinhos encontrados no passeio pela lagoa, Wilson criava seu desenho silencioso que só podia ser visto pelos mais atentos, por aqueles que persistissem ao seu redor, como e com o tempo. Com as horas maculadas de sangue no peito, o artista partiu.

Wilson Avellar, nos jardins do MAP. (Foto: Luiza Palhares)

Em meio a isso, começaram a se espalhar pelo museu vários personagens, no mínimo inusitados, como, a branca de neve, o astronauta, o poodle e a borboletinha. Dava-se início ao Derrame, de Guilherme Morais. Derrame de corpos, de presenças, de roupas, de sensações e sujeitos n´água. Desmanchados e misturados, os corpos escorreram pelo chão e promoveram um contagiante bate-bate entre carnes e objetos que, em um êxtase crescente, foram ampliados por gargalhadas, palmas, murmúrios, dança e Glória Gaynor.

As inusitadas presenças de Derrame. (Foto: Luiza Palhares)

Como a representação de uma epifania, Derrame foi capaz de despertar um desejo de libertação do que está contido, do que contém o corpo, do que nele guardamos. Essa celebração da legítima vontade entornou-se por todo o MAP em brindes pelos jardins, poses com os guardas municipais e com a escultura Nu de August Zamoyski. Foi assim que uma esfuziante manifestação de outras possibilidades corpóreas alcançou e interpelou o espectador, muitos confessando o desejo de também se derramarem.

"Derramados".  (Foto:Luiza Palhares)

A terceira performance do dia, Capturo Cabezas, Cartografo Inframundos, do músico e poeta Ricardo Aleixo, diz respeito aos espaços além livro que vem sendo conquistados pela poesia. Na performance, a palavra ganhou o corpo, envolto em um manto de sentidos em movimento. Deste invólucro ouviam-se vocábulos, palavras voantes que se espalhavam pelo salão nobre do MAP a fim de se atualizarem em seus leitores-ouvintes.

Ricardo Aleixo no salão nobre do MAP. (Foto: Luiza Palhares)
Espalhados pelo espaço os registros vocais, corporais e imagéticos são desobedientes, são elementos “desierarquizados”. Assim, coube ao próprio público capturar, apanhar e alinhavar o que lhes foi oferecido aos sentidos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário